Monitoramento hídrico: uma nova alternativa eficiente e de baixo custo

O monitoramento hídrico é uma exigência para a maioria das empresas de base florestal. Além de uma obrigação imposta muitas vezes para se obter a licença de operação, outras vezes como parte das exigências de certificação florestal, tem adquirido importância ainda maior atualmente, por conta da necessidade de se obter indicadores ESG confiáveis.

Trabalho com monitoramento hídrico a mais de 20 anos e ao longo desse período, observei a dificuldade das empresas em implementar e manter um sistema de monitoramento hídrico operacional. O monitoramento de vazão em pequenas bacias hidrográficas é tradicionalmente executado por meio da construção de vertedor de concreto e instalação de linígrafo, que registra a altura da lâmina d’água em períodos regulares.

Canal tranquilizador, poço do linígrafo e vertedor de concreto ao fundo. Foto do acervo do autor.

Essa solução fornece dados de vazão com boa precisão, sendo a mais recomendada quando o objetivo da obtenção dos dados é, por exemplo, produzir um estudo científico. no dia a dia das empresas essa solução causa muitos inconvenientes como necessidade de limpeza periódica do vertedor, envio de um técnico semanalmente para coleta dos dados, tratamento desses dados para transformá-los em vazão e sua interpretação. Devo considerar também que observo, com uma frequência cada vez maior, a depredação e furto dos equipamentos de campo, cuja reposição é onerosa e demorada, levando a ausência de dados por longos períodos.

Todos esses fatores somados, aliados ao alto custo de implantação do sistema, me levou a pensar, 15 anos atrás, se não haveria uma solução que atendesse as demandas por dados dos órgãos reguladores, das certificadoras e dos times de sustentabilidade das empresas sem o custo e as desvantagens do método tradicional. Encontrei a solução na técnica da modelagem hidrológica, onde um modelo computacional gera as vazões com base em variáveis climáticas e do meio físico.

A solução parecia boa, mas não encontrei na época, nada adequado para o ambiente de florestas plantadas. Eu e minha equipe, com apoio de colegas da ESALQ/USP iniciamos então o desenvolvimento de um modelo climático, que fosse eficaz na modelagem do microclima da floresta, o que consumiu alguns anos de trabalho. Esse modelo climático foi então inserido em um outro tipo de modelo, chamado de chuva-vazão, que como o próprio nome diz, transforma dados de chuva em vazão. Depois de muitos testes e aperfeiçoamentos, chegamos a uma versão comercial, que necessitava apenas de calibração periódica e um pluviômetro no interior da bacia hidrográfica para operar.

Depois de 6 anos de operação em plantios florestais de várias regiões do Brasil realizando simultaneamente medições in loco para verificar a acurácia do modelo, chegamos a uma precisão superior a 95%, quando comparado a dados obtidos em campo por meio de molinete.

O gráfico abaixo é o resultado do monitoramento de uma pequena bacia hidrográfica com plantio comercial no estado do Paraná, monitorada por 40 meses consecutivos. No eixo inferior, em azul claro, temos a vazão gerada pelo modelo e as barras amarelas são as medições em campo, realizadas com molinete. Visualmente observamos a elevada correlação entre os dados do modelo e as medições de campo.

Com esses resultados comparativos obtidos ficamos muito confiantes na qualidade dos dados de vazão gerados pelo modelo e para complementar o monitoramento hídrico, fazemos para os nossos clientes a análise integrada dos dados qualitativos das bacias hidrográficas, em que consideramos todo o histórico de dados, o seu comportamento ao longo do tempo e a influência do manejo florestal sobre a qualidade da água.

Esse sistema atualmente opera em diversas empresas de norte a sul do Brasil, com muito sucesso!

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